segunda-feira, 31 de maio de 2021

RESENHA SOBRE EPISODIO - Grey’s Anatomy 14x10 - “Personal Jesus”

Por - Ana Beatriz Batista 

Grey’s Anatomy é uma série exibida tanto pela TV em canais fechados como em plataformas streaming como o Netflix. O enredo se passa em um hospital, num drama médico norte-americano, onde se retrata a vida de médicos protagonistas e suas situações do cotidiano profissional. A serie em muitos episódios retrata e discute sobre o racismo e as consequências dele tanto individualmente para as personagens como para a sociedade. racismo e a discriminação étnica nos Estados Unidos têm sido um grande problema desde a época colonial e escravista do país. 

O episódio "Personal Jesus" mostra a cena de um casal de cirurgiões negros, ensinando ao seu filho de apenas dez anos como agir em uma abordagem policial, e o que nunca fazer para ele não sofrer as consequências do racismo e da injuria racial. Nele a cirurgiã Bailey e seu marido Ben, ensinam ao seu filho a assim que os policiais o abordarem, ele falar o nome todo, sua idade, mostrando assim que ele não tem nada que possa machucar os policiais e sempre manter as mãos para o alto sem fazer nenhum tipo de movimento rápido ou correr, e o mais importante sempre narrar o que ele vai fazer antes de fazer. Para que os policiais não se assustem e atirem nele, pedem que ele seja respeitoso e educado e mostrar um documento de identificação como a identidade. 

Esse episódio chocou bastante seus telespectadores, mas mal sabe eles que isso é infelizmente a realidade da população negra. A partir dessas cenas contextualizadas na cultura norte americana, discuto como essa narrativa pode provocar importantes reflexões sobre o racismo também no Brasil. 





RACISMO NO BRASIL: aproximações e diferenças a partir das cenas em Grey´s Anatomy

A serie retratou bem o cuidado e a preocupação das mães negras sejam elas americanas ou brasileiras, tem com seus filhos e filhas, os orientando sempre sobre como agir e o que falar. No Brasil, a maioria dos jovens abordados pela policia sempre tem o mesmo perfil e a mesma cor, jovens negros que são vistos pela sociedade como ladrões ou ate mesmo traficantes, a cena da serie é vivida por milhares de jovens negros todos os dias. O que Bailey e seu marido ensinam ao seu filho é o que as mães negras no Brasil fazem todos os dias, ensinam e rezam para que seus filhos voltem para casa com vida, para que aquele RG em mãos o tire de uma encruzilhada e que ele volte para seus braços sã e salvo.

As mães e os pais negros, aconselham seus filhos de como agir, falar e pensar perto de policiais, os aconselham sempre a ter seu RG em mãos, e sempre agir com muita cautela. Pois um movimento em falso pode valer uma vida. A importância de seguir o que é falado pelos pais é de extrema necessidade, as mãos para cima, se ajoelhar e falar seu nome todo e se manter imóvel é necessário demais para que aquilo não se torne cena de um crime ou até mesmo uma prisão sem motivo.

  O Brasil por si é uma sociedade racista, devido seu histórico colonial e escravista que ainda hoje deixa resquícios em sua estrutura social, embora muitos fechem os olhos e digam que não existe racismo. 

Logo, desde de pequeno um jovem negro é ensinado que sua vida vale menos do que o de um jovem branco, e que todo cuidado é pouco ao sair, ao falar e ate mesmo ao se vestir. A vestimenta não importa muito na hora dele ser abordado ou ate mesmo morto, quantos jovens foram mortos voltando da escola, do trabalho ou até mesmo da igreja. 

 O racismo e a questão geracional 

Não é possível determinar uma idade precisa para a ocorrência de maior violência sofrida por parte de pessoas negras, apesar de diversos estudos acadêmicos ou feitos pelos movimentos negros . Mães orientam seus filhos desde de pequenos a como agir, a criança já cresce tendo medo da polícia e da lei, policia essa que na teoria era para defender a população.

Bala da polícia só acha um caminho, que é no peito do jovem negro, muitas vezes trabalhador e que a mãe está esperando para tê-lo novamente seguro e em casa. Ainda hoje, onde o racismo até é combatido com mais força do que no passado, mas isso não significa que não exista racismo e que as pessoas não sofrem com ele, significa que os negros estão tendo mais voz e mais direitos e finalmente conseguindo aos poucos e com muita luta o seu espaço na sociedade.


 "É o racismo que opera quando policiais usam violência contra quem consideram suspeitos. Cerca de 75% das pessoas que foram mortas em intervenções policiais eram negras, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com dados de 2017 e 2018. Pesquisas acadêmicas conduzidas pela professora e socióloga Jacqueline Sinhoretto, do Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) acerca do comportamento da polícia em abordagens, mostra que há uma enorme diferença de tratamento e uso da força contra negros em relação a não-negros na prática cotidiana do policiamento e que a filtragem dos “suspeitos” feita pela polícia tem como base a cor da pele." <https://www.geledes.org.br/um-ano-da-morte-de-floyd-antirracismo-precisa-avancar-tambem-no-brasil/>


O que é o racismo  


Racismo é a denominação da discriminação e do preconceito (direta ou indiretamente) contra indivíduos ou grupos por causa de sua etnia ou cor. É importante ressaltar que o preconceito é uma forma de conceito ou juízo formulado sem qualquer conhecimento prévio do assunto tratado, enquanto a discriminação é o ato de separar, excluir ou diferenciar pessoas ou objetos.

O racismo é um problema que afeta o Brasil desde a sua formação. Passamos entre os séculos XVI e XIX por mais de 300 anos de escravização de africanos e seus descendentes que nasceram aqui. Mesmo com o fim da escravidão em nosso país, não podemos dizer que houve, alguma vez, a verdadeira igualdade racial no Brasil.

Mais informações sobre racismo no texto do prof.Kabengelê Munanga "Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia" - Disponível em https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Uma-abordagem-conceitual-das-nocoes-de-raca-racismo-dentidade-e-etnia.pdf


Resenha crítica produzida como atividade do componente curricular - Jornalismo e Cultura Brasileira ministrada pela profa. Helen Campos.


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