Por Alexa Santa Rosa
Brasileiro, nascido na grande São Paulo no ano de 1985, Leandro Roque de Oliveira (mais conhecido como Emicida), é um dos maiores Rappers do país. O nome artístico ‘’EMICIDA’’ veio da junção de ‘’MC’’ e ‘’Homicida’’, apelido ganhado pelas inúmeras vitórias quando ainda participava das batalhas de rap pelas ruas de São Paulo.
Emicida é um artista completo e deu início a sua carreira em 2005. Em 2009, ele lançou o seu primeiro mixtape nomeado de “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe”, onde continha 25 (vinte e cinco) músicas inéditas e a capa do disco foi desenhada por ele mesmo.
Ao longo desses anos, Emicida já lançou vários outros álbuns que foram sucesso em todo o país e foi, inclusive, indicado ao Grammy Latino quatro vezes, saindo vencedor em uma dessas indicações pela categoria Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa com o disco “AmarElo” em 2020. O rapper é conhecido na música por suas rimas e pelas suas letras fortes, onde, na maioria das vezes, fazem críticas e trazem questionamentos para vários problemas enfrentados por nós no nosso dia a dia, tais como: racismo, homofobia, sexismo, corrupção, injustiça e desigualdade racial e de gênero.
Vídeo clipe e letra da música
Com direção de Katia Lund e João Wainer, Emicida lançou, em 2015, o clipe da música composta por ele, titulado de “Boa Esperança”, onde na história do clipe, que tem a duração de mais de 7 minutos, ele aborda temas importantes que são ‘’esquecidos’’ ou ‘’ignorados’’, na maioria das vezes, pelas mídias e pela sociedade. O clipe se passa no condomínio luxuoso e traz o dia a dia do trabalho de funcionários, negros em sua maioria, em uma das mansões. Abordando a discriminação, o assédio e a humilhação perpetrada pelos patrões aos funcionários por causa da cor, classe social e, até mesmo, gênero sexual. Cansados dos tratamentos desumanos, os funcionários decidem fazer uma espécie de rebelião a fim de descontar as violências sofridas diariamente por eles.
A história mostrada no clipe faz um casamento com a letra marcante da música. O trecho “Favela ainda é senzala, Jão, Bomba relógio prestes a estourar” é retratada de uma maneira muito atual, uma vez que, no clipe, os papéis dos empregados são vividos por atores negros quase que em sua totalidade. Esse clipe, nos faz enxergar a realidade vivida por muitas mulheres negras, de baixa renda, analfabetas e periféricas que, por falta de melhores condições de vida, veem na casa dos ‘’brancos’’ a oportunidade de renda e, por isso, acabam por se submeterem às atividades humilhantes, vis e, muitas vezes, análogas ao trabalho escravo, no intuito de conseguir levar algum alimento para casa.
Outro trecho importante da música é o “Por mais que você corra, irmão
Pra sua guerra vai nem se lixar”, onde, no clipe, podemos fazer a ligação com a dedicação das empregadas e a insatisfação da patroa com o trabalho feito por eles. Já, na vida real, podemos refletir esse trecho com os(as) vários(as) jovens periféricos(as) que concorrem a vagas de empregos e, muitas vezes, são eliminados porque não corresponderem aos padrões estéticos impostos pelas “normas da empresa”, normas essas que apenas refletem o pensamento de uma sociedade racista, gordofóbica, machista e misógina. Nesses casos, o que menos se leva em consideração é a capacidade do entrevistado(a).
No trecho “Indenização? Fama de vagabundo”, nos leva a lembrar a cena do clipe onde a personagem vivida pela atriz, Gerônima Dias, que é uma empregada jovem, negra, vaidosa e bonita, que além de sofrer assédio de uns dos seus patrões é vista como vagabunda pela patroa que flagra o momento do assédio. Esse trecho da música nos leva a refletir sobre as várias situações vividas por jovens negros que, durante todo o procedimento investigativo do inquérito policial, são tratados como se culpados fossem e, durante o processo criminal, mesmo sem haver provas suficientes para uma condenação, são condenados injustamente. Um dos vários exemplos disso, é o caso de Gabriel Silva Santos, de 23 anos, que foi preso por Policiais Militares da Bahia no dia 12/05/2020 e a única prova que os policiais tinham, era que Gabriel era negro, de cabelo pintado de loiro e tatuado. Gabriel era estoquista e tinha acabado de perder o trabalho, tinha ido ao banco sacar o seguro-desemprego quando, na saída do banco, foi surpreendido por policiais que estavam atrás de um homem que tinha roubado um carro e estava cobrando dinheiro para devolver o automóvel. O único indício contra Gabriel era a descrição do ladrão como alguém negro, loiro e de tatuagens. Levado à Delegacia de Repressão à Furtos e Roubos de Veículos, foi colocado pelos policiais diante da vítima e do seu marido, que não o reconheceram.
Agora saindo um pouco do contexto do clipe e avaliando a letra composta por Emicida, em uma das frases de ‘’Boa esperança’’, ele faz uma espécie de crítica à maneira que jovens negros são abordados pelos policiais no Brasil. “Silêncio e cara no chão, conhece?Perseguição se esquece? Tanta agressão enlouquece. ” Esse trecho, traz muito a luta dos jovens de baixa renda do país e que sofrem rotineiramente com as abordagens policiais nas periferias, onde muitas vezes sofrem com a perseguições e agressões gratuitas baseadas somente pela classe social ou pela sua cor. Já o trecho, “Vence o Datena, com luto e audiência” vem das reportagens feitas, na maioria das vezes, em operações policiais onde negros são assassinados brutalmente com transmissão ao vivo dos jornais sensacionalistas que fazem questão de passar a imagem do jovem negro como bandido, violento, reafirmando, com isso, a ideia presente no imaginário elitista-social de que todo preto - pobre é bandido, e por isso, merece o tratamento mais cruel possível.
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