quarta-feira, 7 de outubro de 2020

RESENHA CRÍTICA: KBela

 Por Eula Olivia Brito Santos

Obra dirigido por Yasmin Thayná, nascida no Rio de Janeiro, ainda jovem, aos seus 16 anos já dirigindo, escrevendo e participando de curtas-metragens, entrou para o grupo de jovens repórteres da Vila Iguaçuana (Santa Rita) participando do projeto “Memorias do Cárcere” na 52ª DP. Atualmente na PUC- Rio é estudante de comunicação social e ainda segue interessada sobre assuntos de impacto atual, como redes sociais, cinema, raça, gênero e comunicação. Além de trabalhar como pesquisadora no segmento de políticas públicas na Fundação Getúlio Vargas, foi colunista de jornais virtuais e blogs, fundando o projeto ‘Nova Iguaçu Eu Te Amo’ e integrou o projeto ‘Coletivo Nuvem Negra’, produzindo além de ‘Kbela’ em 2015, Yasmin Thayná também escreveu e dirigiu a obra “Batalhas” que aponta o curso do funk ao decorrer da história.

Sua produção foi completamente orçada pelas pessoas, por intermédio das redes sociais contou com a colaboração de 117 pessoas, que levantaram o valor de R$5.000,00 para os custos da gravação, ou seja, um financeiro relativamente limitado não foi o bastante para impedir a obra de ser feita ou premiada. Da mesma maneira a convocação do elenco se deu pelas redes sociais, para garantir a maior variedade de histórias e realidades de mulheres negras ara mulheres negras.

Ao analisar mais detalhadamente, notamos que o processo de escolhas e decisões tomadas para expressar, mover e impactar ao público, da maneira desejada e objetivada pela diretora foi minuciosamente montado, para deixar o curta com sensação de retratar uma realidade de modo mais verossível, os recursos usados não tentaram encobrir, mas revelar a realidade por traz do curta e por traz das câmeras, algo que o abuso de efeitos pode roubar e expressar apenas como uma ficção e não como a verdade que é contada, no caso a vida direta das mulheres que se disponibilizaram a participar do curta. Neste contexto, o fato de ter sido feito por meio de colaboração em conjunto, foi um fator que colaborou para retirar do curta a sensação de se assistir e substituiu pela sensação de inserção na realidade transmitida.

Em relação as características técnicas, a iluminação foi tratada para enfatizar alguns aspectos da cena, sendo também percebido o aproveito da luz do ambiente para contribuir com a naturalidade da cena retratada, em relação ao vestuário escolhido, noto que o figurino não foi utilizado ao aleatório, mas, foi escolhido para causar a impressão correta sobre a cena, como o saco na cabeça ou o vestido colorido, com faixas coloridas na cabeça, ou seja, são elementos visuais fundamentais para a compreensão do sentimento a ser passado, juntamente com a interpretação que particularmente foi de alta qualidade e eficácia, pois, percebe-se que não estavam apenas atuando e sim expressando algo já real em suas vidas, seus sentimentos e experiências reais, algo que não se aprende em escolas de teatro. 

Outro fator a ser discutido é o som de fundo, com quadros próximos nos permite praticamente estarmos juntos com as mulheres nas cenas, como cena em que se pintam de branco, oscilando com enquadramentos pouco mais distantes, como na cena em que está coberta pelo saco de lixo. A cena apresenta uma metáfora quanto ao estímulo racista do embraquecimento de corpos negros a partir do alisamento de seus cabelos por exemplo. 




Intercalando entre eventos rápidos e contínuos, como por exemplo, cenas da mulher aplicando produtos em seus cabelos são cenas rápidas, mas, constantes durante o curso do curta repetidas vezes de formas que não é finalizado o processo de cuidado de seus cabelos, aponta como os eventos acontecem rápidos na vida das pessoas, mas, certas eventualidades são constantes, como o racismo, preconceito e a violência vivenciada, sem tempo de recuperação, da mesma maneira o filme mostra as cenas diretamente, sem uso de efeitos especiais para camuflar, disfarçar, atenuar ou amenizar a passagem de informações.

Direção: Yasmin Thayná

Edição: Rafael Todeschini

Elenco: Monique Rocco, Isabél Zuaa, Maria Clara Araújo, MAIS

Produção: Monique Rocco, Erika Cândido

Link: https://www.youtube.com/watch?v=LGNIn5v-3cE

Assista ao filme completo aqui


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