Por: Rodrigo Bulcão Teixeira Veloso
Editora Chefe: Helen Campos
Crédito: Bruno Winycius
Rodrigo
Veloso - Qual a sua trajetória no jornalismo? Como você se tornou fotojornalista
do jornal A Tarde? Começou no impresso?
Shirley Stolze – O meu primeiro
jornal foi o Correio da Bahia, há muito tempo, depois passei pelo jornal A
Tarde, depois Bahia Hoje, retornando agora para o jornal A Tarde.
Comecei na fotografia de filme,
revelando as fotos em laboratório, todos os jornais tinham laboratório e revelação.
Na época ainda era preto e branco, depois o jornal começou a usar filme
colorido e a fazer impressões com cor.
Rodrigo Veloso – Porque você escolheu
ser fotojornalista?
Shirley Stolze – Sou formada em artes
plásticas, quando se faz esse curso tem uma matéria que fazemos fotografia, e
quando entrei em um laboratório tive a certeza que não queria pintura ou
escultura, queria foto. Ali me encantei pela fotografia e a partir disso
comecei a estudar muito, olhar muitos jornais, ler muito o Jornal do Brasil.
Tem três mestres fotojornalistas que adoro muito: Evandro Teixeira, Nair Benedicto
e Aristides Batista.
Rodrigo Veloso – Como você avalia as
mudanças no modo como o jornalismo impresso era feito, no seu começo, até o
momento atual, na era das redes sociais?
Shirley Stolze – O jornal impresso
ele continua, mas as pessoas hoje olham mais os jornais online, em sites e nas
redes sociais, porque é mais rápido. Mas existem muitas pessoas que preferem
ainda pegar o jornal, sentir o cheiro, sujar a mão e ler o impresso.
Rodrigo Veloso – Você crer que teria
um tempo hábil para o fim do formato do jornal impresso?
Shirley Stolze – É uma pergunta que
não tenho uma resposta muito objetiva, acho que pode diminuir, mas acabar acho
que não, acho que pra acabar ainda pode levar muito tempo.
É a mesma coisa com a fotografia
analógica, diminuiu, mas ainda tem muitos fotógrafos que fazem foto com filme,
muita gente do Rio e de São Paulo principalmente. Mas acabar, acho que não, mas
não posso também te responder com uma certeza, é uma incógnita.
Rodrigo Veloso – Você se lembra da
primeira vez que viu sua foto no jornal impresso? Qual foi a sensação?
Shirley Stolze – É uma sensação
fantástica, ver o seu nome nos créditos com a foto. Não tenho certeza, mas acho
que foi uma matéria com moradores de rua, era foto preto e branco ainda, foi
muito interessante, uma emoção muito grande, ver uma foto sua no jornal pela primeira
vez, sabia ali que estava no caminho certo e que queria aprender mais.
Eu tinha a certeza antes de começar
em jornal, que queria a linguagem da fotografia para expressar meus
sentimentos, tentar ajudar em alguma coisa, e quando você entra no jornal e vê
sua foto que está editada e com um texto, é fantástico.
Rodrigo Veloso – Como a reação dos
usuários influencia na produção de conteúdo de uma fotojornalista?
Shirley Stolze – As pessoas comentam
bastante, me perguntam como consegui fazer a foto, e etc. Tem uma foto antiga
que fiz, analógica, que foi muito comentada, não existia o digital ainda e
tenho inclusive o jornal impresso, mas ainda não digitalizei. Foi uma greve no
HGE, de todos os médicos, só quem não fazia a greve era o pessoal de plantão
que tinha que pegar as pessoas que chegavam na emergência.
Peguei essa pauta e fui logo para o
HGE, cedinho. Quando cheguei no HGE, na entrada que tem escrito “Emergência”,
na porta, bem em frente tinha um bode, naquela região tinha algumas pessoas que
criavam bodes, e por ali naquele momento passava um, justamente em frente da
placa “Emergência”. Fiz essa foto e deu o que falar.
Tem outras também, tem uma que fiz na
analógica também, era ACM visitando o Pelourinho, e um dos meninos que estavam
ali pegou nas “partes baixas” de ACM e apertou, e ele morreu de rir, deu aquela
risadinha de dor. Essa também foi muito falada, porque no outro dia foi foto da
capa do jornal, falando algo como: “O carinho das crianças no Pelourinho”.
Registrar a população carente também
causa muito impacto nas pessoas, e atualmente tem crescido as pessoas de rua,
nessa época da pandemia. Não tem espaço físico, por mais que o prefeito e o
governador consigam casas de apoio, tem ainda muita gente na rua, muita gente
que não quer sair da rua e é preocupante pra essas famílias, porque ficam muito
vulneráveis a pegar a doença, estamos passando por uma guerra.
As vezes muitas pessoas me ligam,
comentam, também os colegas de profissão, um comenta com o outro, dar apoio,
sempre damos opiniões e trocamos ideias.
Rodrigo Veloso - Quais os maiores
desafios para um fotojornalista dentro de uma redação e na rua?
Shirley Stolze – O jornal tem uma
adrenalina, que acho que todos nós gostamos da correia, de ser rápido. Tem que
ser atento pra fazer a foto e pra mandar. Está casa dia mais louco, porque está
sendo mais rápido.
E atualmente estamos passando por
essa fase crítica, que temos que ter muito, muito, muito mais atenção onde você
vai, onde você se desloca pra fazer a foto ou se vai entrar na casa de um
personagem pra fazer a foto, tendo que manter a distância, não tocar em nada,
usar álcool e gel sempre, a máscara não pode tirar, quando colocar só tirar
quando chegar em casa. Não bebo água, sinto sede e fome, e fico atenta pra não
tocar em nada, chegar em casa separo a minha roupa, o meu sapato fica do lado
de fora, não entra há muito tempo, três meses que os meus sapato estão fora da
minha casa e o banho muito mais demorado. A atenção aumentou muito, pra a gente
que está trabalhando nessa época do Covid-19, todo cuidado é muito pouco, até
com os colegas que encontramos na rua tem que ser a distância, precaução total.
As coisas ficam mais tensas, porque você tem que se precaver e pensar também no
outro, com quem você vai fotografar, com os colegas... é um vírus muito cruel,
a atenção aumentou muito, haja álcool, haja sabão e ter cuidado.
O fotojornalismo é isso, a gente não
pode nunca correr da raia, escolhemos essa opção e temos que trabalhar.
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