segunda-feira, 26 de outubro de 2020

 Resenha crítica - Filme KBELA

                                                                                                         por Paula Carolina Dantas

 

Filme KBELA é um curta-metragem, representado somente por mulheres negras, menos de 30 minutos de duração, conteúdo forte que envolve a cultura negra, religiosidade e as questões de enfrentamento diante de uma sociedade que impõe padrões de beleza.

É um filme de impacto social, que mostra dor, angustia e superação das mulheres negras.  Uma história de mulheres que são sufocadas por uma sociedade racista e seus padrões de beleza.
Inicialmente as cenas são de dor e sofrimento com imagens fortes de alisamento e pintura do corpo como representação de como são impostas a belezas de outras etnias, decorrendo de cenas de aceitação, fé e renascimento em si. Mostra a beleza do povo negro, sua cultura, suas roupas coloridas, turbantes, seus cantos como iorubá e religião.

É a representação de muitas mulheres que se reinventaram e se assumiram ao logo dos últimos anos, se livrando do que lhe era imposto e se amando como são.
 
KBELA nasceu a partir de um conto que ela escreveu sobre descobrir-se negra e “assumir” os fios crespos. O texto foi parar na publicação da Flupp (Feira Literária das Periferias) e, em seguida, foi encenado em algumas casas durante o Festival Home Theatre.

O curta metragem realizado de forma colaborativa, todas as pessoas envolvidas trabalharam sem receber dinheiro, pois a primeira versão do filme foi perdida em um assalto, com as gravações quase concluídas.
A primeira exibição pública do curta-metragem aconteceu no dia 12 de setembro de 2015, no Rio de Janeiro, no Cine Odeon por uma plateia de negros. O sucesso de público culminou no convite para a realização de mais três sessões com meia-entrada para todos. Desde então, KBELA circulou o Brasil e o mundo em exibições especiais.

A referência máxima do filme é o cineasta e ativista do movimento negro Zózimo Bulbul [1937-2013] e a linguagem que ele usou no filme Alma no olho, de 1974. Também teve influência de videoclipes da cantora de soul Laura Mvula, textos da ativista americana Bell Hooks, músicas da Nina Simone e do John Coltrane e a performance Bombril, da artista mineira Priscila Rezende.
 
KBELA é uma experiência audiovisual realizada de forma colaborativa por mulheres negras sobre mulheres negras. Com roteiro e direção de Yasmin Thayná, o filme recebeu o prêmio de Melhor Curta-metragem da Diáspora Africana da Academia Africana de Cinema (AMAA Awards 2017) e foi convidado para dezenas de festivais ao redor do mundo, entre eles o Festival Internacional de Cinema de Roterdã (IFFR, 2017) e FESPACO – Festival Panafricano de Cinema e Televisão de Ouagadougou, em Burkina Faso, o maior do continente africano. 
O processo de produção do filme é baseado nas redes de afeto e da internet – o elenco foi convocado nas redes sociais para garantir a diversidade de personagens que também colaboraram com suas histórias pessoais para o curta. Uma vaquinha online contou com a colaboração de 117 pessoas e arrecadou R$ 5.000 para custear as gravações do filme.

 

DIRETORA

Yasmin Thayná

 

Yasmin Thayná nasceu em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e cresceu na Vila Iguaçuana, em Santa Rita. Filha de empregada doméstica, criada por seu pai Osmar (porteiro e pedreiro) e sua avó paterna, sempre estudou em escolas públicas e participou de projetos sócias em seu bairro. 

 Começou a rabiscar quando decidiu entrar para o grupo de jovens repórteres de sua cidade onde participou como repórter no projeto “memórias do cárcere”, realizado na 52ª DP e além de escrever para o blog CulturaNI. Aprendeu a pensar nos cineclubes e nas conferências de cultura que participou em Nova Iguaçu. Desde os 16 anos dirige, escreve e participa de produções de curta-metragem. Depois de ter inventado umas 3 vidas, Yasmin Thayná é diretora formada pela Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu e idealizadora da plataforma Afroflix.

 

Filmografia:

Rios, web série, direção, roteiro e montagem (2018)

Trilogia do olhar, videoarte, direção e montagem, 2018

Mulher do fim do mundo, direção e roteiro, videoclipe, 2018

Trajetória de um guerreiro, videoarte, direção e montagem, 2018

Guia da periferia afetiva, 2011, videoarte, direção

Lembranças de minha avó, 2011, documentário, direção e montagem

Barbeiragem, 2017, documentário, direção e roteiro

Vale longo, fashion film, direção e montagem (2017)

Nada está fora do lugar, experimental, direção e montagem (2017)

Batalhas, documentário, direção e roteiro (2016)

Afrotranscendence, web série documental, direção (2016)

Reconstrução, Videoarte, direção e montagem, (2012)

Frascos de perfume, Videoarte, direção e montagem (2009).

 

EQUIPE KBELA

Direção e Roteiro

Yasmin Thayná

 

Atriz (ordem alfabética)

Ana Beatriz Silva

Ana Magalhães

Carla Cris Campos

Dai Ramos

Dandara Raimundo

Isabél Zuaa

Lívia Laso

Marcelly Knowles Jackson

Monique Rocco

Maria Clara Araújo

Sara Hana

Taís de Amorim

Taís Espírito Santo

Thamyres Capela

 

Direção de Produção

Erika Candido

Monique Rocco

 

Colaboradora de roteiro

Erica Magni

 

Direção de Fotografia

Felipe Drehmer

 

Montagem

Rafael Todeschini

 

Direção de arte

Ana Almeida

 

Diretor(a) musical

Ana Beatriz Silva

Ana Magalhães

Dai Ramos

Monica Ávila

Thomas Harres

 

Direção de Comunicação

Silvana Bahia

Bruno F. Duarte

 

Figurino

Macela Domingos

Vinicius Couto

 

Som

Tiago Emanuel

 

Still

Alile Dara Onawale

 

Maquiagem

Camila de Alexandre

 

 

 

 

 

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

RESENHA CRÍTICA: KBela

 Por Eula Olivia Brito Santos

Obra dirigido por Yasmin Thayná, nascida no Rio de Janeiro, ainda jovem, aos seus 16 anos já dirigindo, escrevendo e participando de curtas-metragens, entrou para o grupo de jovens repórteres da Vila Iguaçuana (Santa Rita) participando do projeto “Memorias do Cárcere” na 52ª DP. Atualmente na PUC- Rio é estudante de comunicação social e ainda segue interessada sobre assuntos de impacto atual, como redes sociais, cinema, raça, gênero e comunicação. Além de trabalhar como pesquisadora no segmento de políticas públicas na Fundação Getúlio Vargas, foi colunista de jornais virtuais e blogs, fundando o projeto ‘Nova Iguaçu Eu Te Amo’ e integrou o projeto ‘Coletivo Nuvem Negra’, produzindo além de ‘Kbela’ em 2015, Yasmin Thayná também escreveu e dirigiu a obra “Batalhas” que aponta o curso do funk ao decorrer da história.

Sua produção foi completamente orçada pelas pessoas, por intermédio das redes sociais contou com a colaboração de 117 pessoas, que levantaram o valor de R$5.000,00 para os custos da gravação, ou seja, um financeiro relativamente limitado não foi o bastante para impedir a obra de ser feita ou premiada. Da mesma maneira a convocação do elenco se deu pelas redes sociais, para garantir a maior variedade de histórias e realidades de mulheres negras ara mulheres negras.

Ao analisar mais detalhadamente, notamos que o processo de escolhas e decisões tomadas para expressar, mover e impactar ao público, da maneira desejada e objetivada pela diretora foi minuciosamente montado, para deixar o curta com sensação de retratar uma realidade de modo mais verossível, os recursos usados não tentaram encobrir, mas revelar a realidade por traz do curta e por traz das câmeras, algo que o abuso de efeitos pode roubar e expressar apenas como uma ficção e não como a verdade que é contada, no caso a vida direta das mulheres que se disponibilizaram a participar do curta. Neste contexto, o fato de ter sido feito por meio de colaboração em conjunto, foi um fator que colaborou para retirar do curta a sensação de se assistir e substituiu pela sensação de inserção na realidade transmitida.

Em relação as características técnicas, a iluminação foi tratada para enfatizar alguns aspectos da cena, sendo também percebido o aproveito da luz do ambiente para contribuir com a naturalidade da cena retratada, em relação ao vestuário escolhido, noto que o figurino não foi utilizado ao aleatório, mas, foi escolhido para causar a impressão correta sobre a cena, como o saco na cabeça ou o vestido colorido, com faixas coloridas na cabeça, ou seja, são elementos visuais fundamentais para a compreensão do sentimento a ser passado, juntamente com a interpretação que particularmente foi de alta qualidade e eficácia, pois, percebe-se que não estavam apenas atuando e sim expressando algo já real em suas vidas, seus sentimentos e experiências reais, algo que não se aprende em escolas de teatro. 

Outro fator a ser discutido é o som de fundo, com quadros próximos nos permite praticamente estarmos juntos com as mulheres nas cenas, como cena em que se pintam de branco, oscilando com enquadramentos pouco mais distantes, como na cena em que está coberta pelo saco de lixo. A cena apresenta uma metáfora quanto ao estímulo racista do embraquecimento de corpos negros a partir do alisamento de seus cabelos por exemplo. 




Intercalando entre eventos rápidos e contínuos, como por exemplo, cenas da mulher aplicando produtos em seus cabelos são cenas rápidas, mas, constantes durante o curso do curta repetidas vezes de formas que não é finalizado o processo de cuidado de seus cabelos, aponta como os eventos acontecem rápidos na vida das pessoas, mas, certas eventualidades são constantes, como o racismo, preconceito e a violência vivenciada, sem tempo de recuperação, da mesma maneira o filme mostra as cenas diretamente, sem uso de efeitos especiais para camuflar, disfarçar, atenuar ou amenizar a passagem de informações.

Direção: Yasmin Thayná

Edição: Rafael Todeschini

Elenco: Monique Rocco, Isabél Zuaa, Maria Clara Araújo, MAIS

Produção: Monique Rocco, Erika Cândido

Link: https://www.youtube.com/watch?v=LGNIn5v-3cE

Assista ao filme completo aqui


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